Árvores doentes levam a temor de “apagão verde” em SP

Espécie exótica, facilmente encontrada em Buenos Aires, as tipuanas foram trazidas para o Brasil, ainda no início do século 20, como parte do processo de urbanização promovida pela Companhia City. Até a década de 1960, era ainda uma das espécies mais plantadas na cidade, assim como as sibipirunas, nativas da mata atlântica.

Hoje, “elas são como senhoras de 80, 90 anos, mas em má condição de saúde. Como são substituídas por espécies menores, em dez anos, poderemos ter um apagão verde na cidade”, diz o botânico Ricardo Cardim, que há uma década se dedica ao assunto.

Para Cardim, o problema maior é que, com as tipuanas perto do fim da vida, o plano de manejo e a substituição por espécies de porte e valor ambiental equivalente não é devidamente cumprido.

“Se você perde uma tipuana e planta um ipê branco no lugar, por exemplo, essa árvore nova vai equivaler a um galho da antiga. Estamos substituindo grande parte dessas espécies por árvores anãs.”

Além disso, a mera reposição não é garantia de sucesso se não houver acompanhamento adequado. Um exemplo disso ocorreu na gestão de Paulo Maluf (1993-1996), com o programa “1 milhão de árvores.” Segundo a secretaria do Verde e do Meio Ambiente disse na época, das 500 mil árvores plantadas, só 146 mil sobreviveram.

Tipuanas em praça de Buenos Aires
Tipuanas em praça de Buenos Aires. Foto: Roberto Fiadone

Algumas espécies que poderiam ser introduzidas no lugar das tipuanas prestes a se aposentar, diz o botânico, são o pau-viola, a copaíba e o jacarandá paulista, árvores de grande porte e equivalentes em serviços ambientais.

Para o diretor do Instituto de Biociências da USP, Marcos Buckeridge, a cidade perde sem árvores como as tipuanas, mas é precipitado falar em apagão verde.

“Em termos de sombreamento, sim, mas em termos de [produção] de vapor d’água algumas espécies podem ser iguais”, diz Buckeridge, que também é coordenador do Programa USP Cidades Globais, no Intsitituto de Estudos Avançados. “Não consigo te dar um dado científico que dê suporte à afirmação que podemos ter um apagão.”

Buckeridge lembra que nem só o porte das árvores conta no peso dos serviços ambientais. Fatores como o tamanho da folha e a dinâmica da abertura e fechamento dos estômatos (estruturas celulares que fazem as trocas gasosas com o meio ambiente) são importantes para definir o peso ambiental da espécie.

Novo plano

De acordo com o secretário adjunto do Verde e do Meio Ambiente, Luiz Ricardo Viegas de Carvalho, a cidade terá ainda neste ano novos plano de arborização e levantamento das espécies que vivem na capital paulista. “Essa é uma ferramenta que já deveria ter sido feita. A estratégia da agenda verde ficou parada no tempo”, diz.

Segundo ele, o que temos hoje são indícios de onde estão a maioria das espécies. Sabe-se, por exemplo, que as árvores com as copas maiores, e maior peso nos serviços ambientais, se concentram nos distritos da região central.

Tipuanas na Cidade Universitária, no Butantã, zona oeste de São Paulo. Foto: Marcos Santos/USP

O novo manual de arborização de São Paulo prevê o uso de espécies nativas da mata atlântica e regulamenta as substituições por árvores de porte semelhante, respeitando as características locais como o tamanho da calçada e a presença de fiação elétrica.

“O estado faz seu inventário florestal de dez em dez anos. Aqui, ficamos 32 anos sem fazer o mapeamento”, diz Viegas.

Ele afirma que a cidade não corre o risco de sofrer um apagão verde nos próximos anos. Primeiro porque prepara um novo plano de arborização; segundo, por sua localização próxima a regiões de mata atlântica, com espécies que podem facilmente se adaptar.

Viegas, porém, não desconsidera os vazios verdes da capital, como a zona leste, a segunda região da cidade com o maior percentual verde, mas também a com a maior população. “Temos regiões de expansão como a zona leste em que esse processo de arborização precisa ser intensificado”, pondera ele. “Hoje, estamos numa situação mediana.”

Fonte: Folha de S. Paulo